terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

'CONSCIÊNCIA SOLAR'- CAPÍTULOI








Ela então sentia o vento sutilmente em seu corpo de pele opaca. Misturou-se com o vento, a pele, e tudo estava quase totalmente invisível. Ambos juntos, o vento e a pele, a pele e o vento. O corpo progressivamente perdia mais e mais a cor, o frio intensificava a transparência da pele,que estava por sumir.
Ela procurou aquecer-se com algo, só achou uma toalha velha e empoeirada no canto da porta. Pegou a toalha e em um só impulso cobriu-se. O tecido agora cobria a pele. O vento que antes a cobria deu lugar a uma grosa manta áspera. O tecido por cima da finíssima pele, a pele por entre o grosso pano. Ia aquecendo e intoxicando a opaca pele espessamente fina. Refletiu sobre o vento e o tecido: o vento dava uma sensação de leveza e suavidade à pele, mas em contra partida, causava o frio demasiado. Ao lembrar-se do tecido lhe vinha à mente o conforto térmico e o incomodo áspero no sentido do tato. Constatou que nada poderia ser perfeito; que sempre haverá a dúvida... O sol voltou lentamente e com ele o calor, aquecendo a epiderme, que tomou agora uma cor rosada. O sol sempre soube dá cor e vida as coisas... Mas ainda há seres que preferem a treva, a escuridão fria e duvidosa... Ela não! Ela sorria ao ver o sol ...Parecia que o sol trazia lembranças boas,renovação e paz,embora soubesse que tudo é muito incerto.Ela preferia o sol,a ilusão e o poder do sol !Não gostava da dúvida que a treva lhe proporcionava, preferia sem dúvidas o sol. Em seus sonhos tudo era sempre claro.Sonhava com nitidez .Bom?Nem sempre... Ela via com clareza os acontecimentos, seja bom ou ruim, em seus sonhos ela via nitidamente tudo. Não é só na treva que vive os sonhos ruins... O claro é, portanto um disfarce, o claro embeleza o feio e o assustador, mas a dor não tem disfarce, a dor, há a dor! A dor nunca tem como disfarçar... E ela sabia disso, sentia que no sol, na luz do imenso sol ,não havia dúvida, nem frieza, nem susto... Mas a dor, essa era imprescindível, inerente a luz preta ou branca, a dor doía na alma dela e não podia mudar, só se ela mudasse... Só se ela mudasse...