em águas
finas e
cristalinas
meu ser
levemente
para bem longe
foi...
foi...
aos poucos
aos pouquinhos
pedaços de mim...
foi-se por completo
em uma só manhã
de vez
em uma
aterrorizante
correnteza
...
arrastou-me
e
desde
então
permaneço entre um
furtivo e terminantemente
transparecer
latente
e
desde então
não há fogo
que me queime
eu já ultrapassei
a máxima dor
me transformei em água
derrapei e
leve e límpida
forte e profunda
virei
a minha própria
necessidade
abasteço-me
de mim mesma
desde
então
escorro (em) palavras
(entre) palavras
(com) palavras
(sempre) em palavras
como a água
solvente
que dá forma
a tudo
Um comentário:
Gostei do poema e da ideia de progressão, enchente, algo que se esvai, se encontra e se preenche... Mas, logo no começo, fiquei surpreso com "águas finas". Não tinha entendido a princípio, confesso. Porém, o "finas" faz todo o sentido quando terminamos de ler o presente poema. Afinal, é nascente, certo? Contudo, não resisto em ti provocar: e se fosse "águas frias", hein? Que que você acha??
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